Me chamo Rodrigo Almeida, tenho 38 anos, sou contador em uma empresa de médio porte no centro de São Paulo, e até o dia 17 de março de 2024, meu conhecimento sobre caça-níquel grátis se limitava a propagandas irritantes que apareciam enquanto eu tentava assistir vídeos sobre como montar móveis do IKEA no YouTube. Isso mudou drasticamente quando fiquei preso em um elevador por 14 horas e 23 minutos com Dona Marta, uma senhora de 67 anos, aposentada do Banco do Brasil, que carregava consigo três celulares, cada um dedicado exclusivamente a diferentes jogos de caça-níquel grátis.
O incidente aconteceu no prédio onde moro em Moema. Era um domingo à noite, eu voltava do supermercado com quatro sacolas plásticas cheias de comida congelada (a dieta de um divorciado recente) quando entrei no elevador e encontrei Dona Marta, que havia se mudado para o 8º andar há apenas duas semanas. Entre o 3º e o 4º andar, houve um apagão, e o elevador parou com um solavanco dramático que fez meus nuggets de frango voarem da sacola.
“Não entre em pânico, meu filho. Eu já fiquei presa em lugares piores. Em 1998, passei seis horas trancada no banheiro de um bingo em Ribeirão Preto. Foi lá que ganhei meu primeiro jackpot”, disse ela, com uma calma perturbadora, enquanto sacava um dos seus celulares da bolsa. “Enquanto esperamos o resgate, posso te mostrar como ganho dinheiro sem gastar um centavo?”
As primeiras três horas no elevador foram dedicadas a uma masterclass intensiva sobre caça-níquel grátis. Sentados no chão metálico, iluminados apenas pela luz de emergência vermelha e pelo brilho intenso das telas dos celulares de Dona Marta, aprendi que esses jogos são versões idênticas aos caça-níqueis de cassino, mas sem a necessidade de apostar dinheiro real.
“Veja bem, Rodrigo”, explicou ela enquanto me mostrava um jogo chamado ‘Amazônia Fortune’ com araras coloridas como símbolos, “esses jogos funcionam exatamente como os de verdade. Você gira os rolos, combina símbolos e ganha prêmios. A diferença é que você não coloca dinheiro real e, consequentemente, não saca dinheiro real. É como um namoro sem compromisso – toda a diversão sem o risco de perder a casa no divórcio.” A comparação me atingiu como um tapa, considerando que eu havia perdido o apartamento na Consolação no meu recente divórcio.
Enquanto o tempo passava e ninguém parecia preocupado com nosso desaparecimento (descobri depois que o zelador achou que eu tinha saído para a casa da minha mãe em Santos, como fazia todo mês), Dona Marta me ensinou o básico dos caça-níquel grátis:
Por volta da sexta hora de confinamento, quando já havíamos devorado metade dos meus nuggets congelados e improvisado um banheiro usando uma sacola de supermercado (detalhes serão poupados por decência), passei de observador cético a jogador compulsivo de um jogo chamado “Samba Spins”, que tinha dançarinas de carnaval como símbolos principais. Dona Marta aplaudiu minha conversão ao “lado gratuito da diversão” e, como uma professora orgulhosa, explicou por que cada vez mais brasileiros estavam aderindo aos caça-níquel grátis:
Por volta da oitava hora de nosso cativeiro involuntário no elevador, eu já havia acumulado 50.000 moedas virtuais no “Samba Spins” e estava mais animado do que quando fiz minha primeira declaração de Imposto de Renda sozinho e descobri que tinha restituição. Dona Marta sorriu com seu sorriso de dentes perfeitamente brancos (descobri depois que eram dentaduras de primeira linha) e disse: “Está vendo? É viciante, não é? Agora imagina se fosse seu dinheiro de verdade. Você provavelmente estaria vendendo essas calças jeans caras para continuar jogando.”
Quando chegamos à décima hora presa no elevador, já éramos praticamente melhores amigos. Eu sabia que ela tinha sido casada três vezes, que seu gato favorito se chamava “Jackpot”, e que ela havia ganho uma competição de dança de salão em Fortaleza nos anos 80. Ela sabia que meu divórcio tinha sido causado pela minha obsessão com planilhas de Excel e que eu chorei assistindo “Marley e Eu” quatro vezes, mesmo sabendo o final.
Foi quando ela decidiu compartilhar seu conhecimento sagrado: o mapa brasileiro dos melhores aplicativos e sites para jogar caça-níquel grátis.
“Rodrigo, anote mentalmente porque isso vale ouro”, disse ela, enquanto organizava os três celulares em ordem de preferência. “O mundo dos caça-níqueis grátis é como o mercado municipal de São Paulo – tem de tudo, mas você precisa saber onde estão as melhores barracas para não levar gato por lebre.”
Por volta da meia-noite, quando completamos 12 horas presos no elevador, comecei a ter uma crise de pânico. O ar parecia escasso, as paredes pareciam se fechar, e a ideia de que poderíamos passar a noite inteira ali me fez hiperventilar. Foi quando Dona Marta me entregou seu terceiro celular – o dedicado exclusivamente a jogos com tema de gatos – e disse: “Jogue. Respire. Concentre-se nos gatinhos girando.”
Surpreendentemente, funcionou. Enquanto eu me concentrava em alinhar três gatos siameses para ganhar 500 créditos, minha respiração normalizou e a ansiedade diminuiu. Foi ali, entre o pânico e os nuggets de frango parcialmente descongelados, que entendi os benefícios terapêuticos dos caça-níquel grátis:
Esta foi minha primeira pergunta quando finalmente entendi o conceito. Dona Marta me olhou como se eu tivesse perguntado se a Terra é plana. “Meu filho, se desse para ganhar dinheiro de verdade sem investir nada, eu estaria em Ibiza agora, não presa num elevador comendo nuggets semi-descongelados. Não, você não ganha dinheiro real. O que você ganha é diversão, experiência e, no meu caso, um círculo social mais amplo que quando eu trabalhava no banco.”
Quando fiz esta pergunta, Dona Marta tirou os óculos, limpou lentamente com a barra da blusa e respondeu: “Rodrigo, você perguntaria por que alguém nadaria numa piscina quando poderia nadar no oceano durante um tsunami? O risco, querido, o risco. Joguei com dinheiro real por 15 anos e perdi o equivalente a três apartamentos como o seu. Agora durmo tranquila sabendo que, não importa quanto eu perca no ‘Cat Bonanza’, meus nove gatos ainda terão ração premium no dia seguinte.”
Dona Marta ficou verdadeiramente ofendida com esta pergunta. “Piorados? PIORADOS? Pelo amor de Deus, é exatamente o mesmo jogo! As mesmas mecânicas, os mesmos recursos, os mesmos gráficos. A única diferença é que um pode te levar à falência e o outro, no máximo, ao divórcio por negligência emocional. Pergunte à minha terceira ex-nora.”
Uma pergunta prática que fiz enquanto tentava criar uma conta em “Samba Spins”. “Na maioria dos apps, você pode jogar como anônimo, apenas com download”, respondeu ela. “Alguns pedem cadastro se você quiser salvar progresso ou participar de torneios. Eu tenho 11 e-mails diferentes só para jogos de caça-níqueis. Todos com nomes de gatos: jackpot@gmail, felicio@hotmail, bichano_da_sorte@outlook…”
Esta pergunta surgiu quando finalmente recebi uma ligação da minha chefe, às 3 da manhã, preocupada com minha ausência na reunião de orçamento (que seria às 8h). “Se tem internet, tem jogo”, filosofou Dona Marta. “Já joguei no metrô, na fila do banco, durante o casamento da minha sobrinha, no funeral do meu segundo marido – ele teria aprovado, acredite –, durante uma colonoscopia – o médico nem percebeu –, e agora, presa em um elevador com um contador que usa meias combinando com a cueca. Vida plena, meu filho.”
Uma preocupação válida que expressei por volta das 4 da manhã, quando minha bateria estava em 17% e eu contemplava baixar mais um aplicativo recomendado por Dona Marta. “Meu filho, tenho 67 anos, nove gatos, três ex-maridos e uma conta bancária que só tem dois dígitos antes da vírgula. Que dados valiosos alguém poderia querer de mim? Mas sim, se você baixar de lojas oficiais como Google Play ou App Store, são tão seguros quanto aquela sua planilha de Excel onde você anota todas as calorias que consome.”
Minha última pergunta, feita às 5:23 da manhã, quando os bombeiros finalmente chegaram para nos resgatar e eu percebi que havia passado as últimas 14 horas jogando obssessivamente e não queria parar. Dona Marta sorriu, revelando suas dentaduras perfeitamente brancas: “Meu querido, vício em jogos grátis é como vício em novela das nove – pode consumir seu tempo, mas não seu patrimônio. Eu diria que, entre todos os vícios possíveis na vida, este é dos mais inofensivos. Pergunte ao meu segundo ex-marido sobre o vício em apostas esportivas… Ah, não pode, ele teve que mudar de identidade e agora vive no Paraguai.”
Às 8:37 da manhã de segunda-feira, quando finalmente saímos do elevador, Dona Marta e eu nos despedimos como velhos amigos. Eu perdi a reunião de orçamento, mas ganhei 78.340 créditos no “Samba Spins” e uma nova paixão. Ela me convidou para o chá das cinco que promove toda quarta-feira para seu grupo de jogadoras de caça-níquel grátis, a autodenominada “Confraria das Giradoras”.
Hoje, três semanas depois, sou membro oficial da Confraria (único homem, diga-se de passagem), tenho dois celulares dedicados exclusivamente a jogos de caça-níquel grátis (um para temas brasileiros, outro para temas de comida), e toda quinta-feira, Dona Marta e eu nos encontramos no saguão do prédio para ir até a praça do bairro, onde o Wi-Fi público é particularmente bom, para uma sessão de jogatina coletiva.
E quando me perguntam se não tenho medo de ficar preso no elevador novamente, respondo com toda sinceridade: “Com uma bateria externa, Wi-Fi e ‘Samba Spins’ instalado, eu ficaria preso voluntariamente por mais 14 horas”. Só talvez, desta vez, com comida melhor que nuggets congelados.